Educação financeira transforma vida de alunos de diferentes realidades em colégio de São Paulo

Educação financeira transforma vida de alunos de diferentes realidades em colégio de São Paulo

18 de novembro de 2024 Off Por

Colégio Visconde de Porto Seguro estimula crianças e adolescentes a cuidarem das próprias economias com responsabilidade desde cedo

São Paulo, novembro de 2024 – Mais de 78% das famílias brasileiras estão endividadas, segundo o levantamento feito em março deste ano pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Em junho, outra avaliação indicou que 71,7% dos estudantes brasileiros de 15 anos não conseguem fazer os cálculos de um orçamento, entender um empréstimo ou sequer analisar extratos bancários. Esse é o resultado de mais uma etapa da maior prova internacional de estudantes do mundo, o Pisa, que avaliou a educação financeira em 20 países. Os números reforçam o ponto discutido por especialistas sobre o fato de a educação financeira ainda ser pouco estimulada e praticada no país. Aprender a lidar com as próprias finanças desde cedo pode garantir uma vida financeira com menos turbulências, especialmente quando o ponto de partida é a escola. De tão relevante, o tema virou disciplina escolar obrigatória em algumas instituições, como o Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo, permitindo aos alunos entender, desde cedo, como gerir a mesada ou até mesmo o orçamento de suas famílias.

Lilian Oliveira, coordenadora de Matemática do Ensino Fundamental II no Porto Seguro, explica: “Nossos pilares são planejamento, economia e as aplicações em investimentos. Então, conforme os alunos vão estudando sobre esses pilares e essa formação vai se criando por meio da educação financeira como suporte durante o processo, eles vão recebendo toda educação para ter a liberdade financeira desejada no futuro, sem a necessidade de se tornarem especialistas no assunto”. O Colégio aborda o tema de forma natural, acompanhando as fases de amadurecimento dos estudantes, da infância à adolescência. No Fundamental I, os alunos aprendem desde organizar financeiramente uma festa de aniversário até poupar e também participar de campanhas solidárias. No Ensino Médio, no itinerário formativo que envolve finanças, eles aprendem a criar uma empresa e a desenvolver propostas de negociações com o exterior, chegando ao preço de um produto ou serviço e calculando lucratividade.

Para os mais velhos, do Ensino Médio, a grade de aulas passa por porcentagem simples e composta, que é a parte mais básica da matemática financeira, e, em cima disso, os alunos são preparados para realizar aplicações financeiras tanto de renda fixa quanto de renda variável, como bolsa de valores e tesouro direto. É oferecido também um curso completo de Excel para formatação de relatórios, dashboard e gráficos. São dois anos de curso e, ao final do primeiro ano, o aluno é obrigado a montar uma empresa fictícia. Já no outro ano, eles trabalham sistema de gerenciamento empresarial com foco em fluxo de caixa para saber se a empresa está no caminho certo.

Quase um tabu para adultos, o tema é encarado com naturalidade pela garotada. Segundo a coordenadora, os pais se surpreendem com o nível de maturidade e argumentação dos filhos quando abordam o assunto, muitas vezes introduzindo-o nas conversas da família e participando de algumas tomadas de decisão do orçamento familiar, como férias e mesada.

Ampliando horizontes – O Porto Seguro também desenvolve o projeto extracurricular Escola de Negócios para Jovens, que tem como objetivo preparar os estudantes bolsistas do Ensino Médio para o mundo do trabalho com aulas de Educação Digital, Inglês para Negócios e Matemática Financeira, após todo caminho percorrido nas séries anteriores do Fundamental, em que os alunos ouvem falar pela primeira vez sobre educação financeira. Dessa maneira, é realizado todo um planejamento escolar com o objetivo de ensinar enquanto trabalha com o orçamento das famílias, ajudando na quitação de dívidas, pagamento de impostos e aumento de renda que chega a transformar a vida dos alunos.

A ideia de contribuir com a família dos estudantes surgiu do professor de Matemática Financeira William Ulisses, que trabalhou durante 20 anos em uma instituição estadual de ensino de São Paulo. “Temos a oportunidade de oferecer uma assistência financeira para os alunos, com materiais em sala de aula, computador e internet. Hoje o grande desafio é fazer um adolescente não levar a matemática financeira da escola para dentro de casa, mas tirá-la de dentro da casa dele e mostrar como o mundo funciona”, conta o professor.

Para William, faz parte do trabalho do professor ter um olhar diferenciado para os alunos, bem como compreender e criar um relacionamento de confiança no longo prazo. “O estudante de modo geral considera a matemática financeira desinteressante, por isso o educador precisa aprender que esse relacionamento é saudável e que é necessário se adaptar e inspirar os alunos. O olhar do professor é uma obrigação social, e eu percebi isso dando aula em Paraisópolis, porque lá eles não possuem aula de Matemática Financeira, apenas de Matemática pura, mas ela não mostra o caminho em si que ele precisa trilhar, já que muitos possuem comércio na comunidade”, afirma William.

O professor conta que fez uma pesquisa com todos os seus 117 estudantes no Porto e descobriu que 92% deles nunca tinham declarado Imposto de Renda. Muitos nem eram obrigados, mas, se quisessem, conseguiriam restituição do imposto. “Enxergando esse cenário, ensinei Imposto de Renda a eles com a intenção de contribuir com suas famílias, já que 400 reais de restituição representava um aumento de 20% no salário deles”, completou.

Desses 117 alunos, 20 complementavam a renda ou tinham como principal fonte de renda um comércio na informalidade, então o professor ensinou todos a abrir uma empresa na categoria de Microempreendedor Individual (MEI) e a ter um CNPJ, para dar esperança de um futuro seguro a eles e suas famílias, mostrando direitos como aposentadoria, benefícios, auxílio-maternidade e auxílio-doença, bem como explicando que a casa deles funciona como uma empresa, só que de larga escala. Além disso, 87% das famílias desses alunos possuíam alguma dívida ou uma conta não paga, então o educador mostrou como montar planilhas a fim de ajudar os jovens a realizar o orçamento familiar e a aplicação de renda fixa com o objetivo de planejar um futuro sem dívidas.

“Quando começamos a trabalhar com orçamento familiar, recebi muitas mensagens dos alunos pedindo auxílio para resolver problemas com dívidas e até pedindo ajuda para a família. Foi um grande orgulho poder ajudá-los. Tinha um caso de uma aluna que estava devendo 5 mil reais e, em contato com o banco, comigo e com a mãe para pensarmos um jeito de resolver o problema, a dívida se tornou mil reais e foi quitada”, relembra William Ulisses.

“Antigamente, quando recebíamos nossos salários, pensávamos em comprar e gastar; hoje ouvimos das crianças e dos jovens como eles podem aplicar o seu dinheiro. Nunca ouvi meu pai falar disso, nunca pensei nisso aos meus 16 anos. A educação financeira veio para ficar, afinal um adolescente de 15 anos pensando em aplicar dinheiro é algo surpreendente. A preocupação com a vida financeira acontece muito mais cedo agora se comparado com a minha geração, na época em que eu estava no Ensino Médio”, afirma o professor.

Sobre o Colégio Visconde de Porto Seguro

Fundado em 1878, o Colégio Visconde de Porto Seguro é uma conceituada instituição de ensino do Brasil, que prima pela inovação educacional e pelo desenvolvimento de múltiplos talentos e competências dos alunos da Educação Infantil ao Ensino Médio. Comprometido com uma ampla e sólida formação pluricultural e plurilinguística, conquistou diversas certificações internacionais, como o selo de Exzellente Deutsche Auslandsschule, do governo alemão, que qualifica o Porto como uma escola de excelência no exterior; a da Fundação Alemã Casa do Pequeno Cientista; a da Microsoft Education; e a do Programa das Escolas Associadas da Unesco. Em 2022, o Colégio Porto Seguro passou a ser reconhecido como uma Escola Internacional com opções de currículo: Internacional e Bilíngue, conforme o termo de acordo internacional com o governo da Alemanha.

Lucas Ardigó
lucas.ardigo@fsb.com.br
(11) 97507-8290