AVABRUM participa de debate sobre o suporte das associações nas lutas contra injustiças

AVABRUM participa de debate sobre o suporte das associações nas lutas contra injustiças

19 de março de 2024 Off Por diadianews

Um dos caminhos apontados foi a união de associações que viveram situações traumáticas, e representam vítimas fatais de tragédias que poderiam ter sido evitadas.

Com a força desta união pretendem ser capazes de mudar o tratamento que o Judiciário e as autoridades têm dado aos eventos traumáticos recentes no País.

Brumadinho, 15 de março de 2024 – A AVABRUM (Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão-Brumadinho), a convite da Associação Brasileira de Parentes e Amigos de Vítimas de Acidentes Aéreos (ABRAPAVAA), participou entre os dias 13 e 14 março, em São Paulo, do Congresso de Gerenciamento de Crise e Assistência aos Familiares e Vítimas em Eventos Traumáticos. 

Na conferência, além de acompanhar as discussões, a AVABRUM foi convidada para o debate “A importância das Associações em eventos traumáticos” que aconteceu ontem (14/03).

Diversas associações brasileiras que vivenciaram eventos traumáticos nos anos recentes participaram do painel. Estavam presentes, além da AVABRUM, o Instituto Camila e Luiz Taliberti, projeto que leva o nome de duas das 272 vítimas fatais da tragédia-crime da Vale em 2019, a Associação dos Familiares de Santa Maria, organizações sociais de familiares de vítimas que enfrentaram a covid no caos da saúde em Manaus e familiares de vítimas de violência nas escolas. 

Foi um encontro marcado pela emoção dos relatos e pela certeza de que a solidariedade faz toda a diferença ao acolher os familiares e atingidos e, ao mesmo tempo, fortalecer as pessoas naquele momento de vulnerabilidade de modo a contribuir para ressignificar perdas e enfrentar o luto.

Na abertura da palestra, a mediadora do debate, Liziane Vasconcelos, pediu um minuto de silêncio em homenagem às vítimas e lamentou a decisão dos desembargadores do Tribunal Federal 6a. Região de retirar o ex-presidente da Vale no processo criminal

Participação da AVABRUM no Congresso de Gerenciamento de Crise e Assistência aos Familiares e Vítimas em Eventos Traumáticos – Foto AVABRUM

A fala da AVABRUM foi pautada por um breve histórico de uma Associação que nasceu da dor e do descaso da empresa e das autoridades diante dos acontecimentos.

A vice-presidente Nayara Porto, que perdeu o esposo Everton Lopes, lembrou que a luta por justiça, honrar a memória das 272 vidas, foi marcada por muitos conflitos com a Vale.

“Foram muitas lutas difíceis e que demonstram o quanto é importante ter associações”, ressaltou a vice-presidente, citando a questão dos valores de indenizações, cálculos errados e controversos do dano material, o impasse com a Vale sobre gestão do Memorial de Brumadinho, o direito do FGTS, a falta de permissão para poder participar das reuniões da TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) do dano psicológico, entre outros duros embates com a empresa.

Nayara criticou também a maquiagem da Vale sobre a realidade de Brumadinho, hoje uma cidade devastada pela dor, com mais de 100 órfãos e ainda mais poluída, suja e com vários problemas sociais.

“A Vale diz que está reparando. Ela não entregou sequer os corpos dos nossos que estão na lama de sangue”, comentou ao lembrar que os familiares receberam parte do corpo das vítimas, dada a violência e força das ondas de detritos de minério com o rompimento da barragem. “É uma tragédia que continua, todos os dias”, observou.

Nayara ressaltou que o Brasil tem memória curta e por isso é importante lembrar e cobrar responsabilidades, sempre. “Se com a luta já está difícil, imagina sem associação, pois lutamos contra uma gigante”.

Além de Nayara, esteve presente no congresso, a diretora da AVABRUM Maria Regina Silva, que abordou os desafios da justiça, considerando que a impunidade aumenta a dor dos familiares.

Repudiou também a decisão dos desembargadores que concederam habeas-corpus ao ex-presidente da Vale. “Houve uma investigação criminal séria, só para citar a da Polícia Federal, e o Judiciário ignora estas provas”, lamenta com indignação.

A postura das lideranças da Vale foi duramente criticada. “A injustiça maior é saber o quanto nossos familiares se dedicaram à empresa e nunca houve um reconhecimento da Vale sobre o que aconteceu. Ninguém da Vale me ligou para falar que a Priscila (minha filha) estava na barragem e a mina se rompeu, não sabemos onde ela está, mas morreu” e isso aconteceu com todos os familiares.

Helena Taliberti ressaltou a necessidade de mudanças substanciais na mineração e a importância de manter a memória e a luta contra a impunidade, com o devido julgamento e responsabilização dos culpados. Ao encerrar sua fala, contou que recentemente perguntaram para ela como é ser ativista.

“Quando você descobre como funciona a mineração, na destruição da natureza, no tratamento aos trabalhadores e na falta de cuidado com a comunidade, não tem como você não ser ativista. E alguma coisa a gente sempre pode fazer”.

Paulo Carvalho, da Associação de Familiares de Santa Maria, onde houve o incêndio na boate Kiss que matou 242 jovens, mostrou sua indignação com o sistema de justiça no País.

Relatou que, assim como está acontecendo com Brumadinho, as autoridades fazem de tudo para não responsabilizar ninguém.

Defendeu que a união de todas as entidades que vivem situações semelhantes é o caminho para mudar o tratamento que estas tragédias recebem do Judiciário.

Fatima Carvalho, esposa de Paulo, (ambos perderam o filho Rafael, de 32 anos), fez um desabafo contra as injustiças que cercam estes eventos traumáticos, o que exige dos familiares uma enorme capacidade de resistência.

O debate foi encerrado com a fala da presidente da ABRAPAVAA. Sandra Assali destacou o valor dos movimentos associativos, onde a troca de experiência aproxima os familiares, desperta empatia e solidariedade.

Criticou também a falta de lideranças nas empresas na gestão de crises, com executivos incapazes de reconhecer os erros, as mortes causadas e demonstrando total insensibilidade.

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